terça-feira, 10 de novembro de 2009

Uma garota com suas qualidades, não deveria mentir assim. Ou deveria?


Foi como se eu tivesse entrado em um daqueles transes regressivos, em que nossas lembranças mais remotas vêm à tona e nos 'divertimos' como crianças tolas outra vez.

Enchi a cara as gargalhadas. Meus olhos lacrimejavam ate. Elas dançavam como dançarinas de cancan. Suas pernas nuas e convidativas balançavam bem na minha frente. Tínhamos muita cerveja ainda e a noite já ia longa, quando Bill dormiu sorrateiro atrás do sofá da sala. Tinha uma garota e seu nome era Anita e seus peitos pareciam com comprimidos contra ressaca. Não conseguia tirar os olhos dela. Mesmo que pudesse, não conseguia. "“Por deus”, falei-a olhando em seus olhos castanho-claro, “ você parece ate mais bonita quando me olha sem desejo." Essa mulher que tem peitos quase tão bonitos quanto Bettie Page, e que tem olhos castanho-claros, é uma feiticeira mascarada. Descarada. Perversa.

Não consigo lembrar o nome das outras duas garotas. Qualquer coisa de Martina ou Betina, e a outra tinha um nome estranho, que mais parecia marca de cerveja alemã. Só lembro-me de seus rostos e suas vozes escandalosas enquanto embebedavam-se.

Allen e eu nos divertíamos e gargalhávamos enquanto enchíamos a cara. Assuntos inteligentes não apareciam e eu pouco me importei com isso. Anita continuava me excitando com toda aquela falta de desejo. Jogo sujo. Ela sabe que me deixa louco. Lembro quando perguntei:
- Ei benzinho, porque você não esquece toda essa baboseira ao redor do mundo e concentra-se no que eu quero de você?
- Porque alguém como você iria querer algo de mim?
- Porque e impossível não querer. De você eu quero amor e o equivalente a isso em sacanagem.

Então a beijei e constatei o que já sabia. Toda aquela falta de desejo me encantou como feitiço. Era uma espécie de psicologia reversa, onde meu cérebro captaria aquilo contrario a realidade. Meu tesão, minha paixão, meus dois bagos raspados a gilete barata e meu corpo por inteiro. Seu domínio. Era exatamente isso que ela queria. Bill acordou no exato momento em que eu acariciava as coxas dela e de surto partiu para cima de mim. Mas embriagado, caiu antes que pudesse me alcançar. Então perguntei:
- O que ha com esse cara?
- Bem, ele tem me telefonado às vezes. Sem retorno algum.

E não sei ao certo que noite era aquela. Estávamos perto demais do mar e aquilo so me era brisa. Também não sei se ela era minha salvação ou minha degola. Seus lindos olhos castanho-claros são como duas pedras infernais. Como medusa. Seus peitos que curaram minha ressaca me aliviaram um pouco do mundo lá fora e aqui dentro. De que horas a noite acaba? De que horas ela vai me abandonar? Feiticeira subversiva, não me imponha suas regras, nem seus receios, feiticeira.

*Eu bem que poderia ter ouvido Demétrius, mas quem me garante que ele também não mente?

Em referencia a música Feiticeira, da excelente banda de garage/ punk nordestina, Mahatma Gangue.

Um comentário:

Eleonora Marino Duarte disse...

Mahatma Gangue... caramba, quase ningúem que conheço, conhece!

vou logo dizendo que não é a minha banda preferida, mas como ativistas do punk, estão no topo!

se eu imaginar a canção por trás da narrativa, acho ainda mais legal a composição dessa noite delirante!

sempre uma crônica rasgada de comportamento e poesia!

seus textos são ótimos, já te disse!

grande abraço!