
Foi como se eu tivesse entrado em um daqueles transes regressivos, em que nossas lembranças mais remotas vêm à tona e nos 'divertimos' como crianças tolas outra vez.
Enchi a cara as gargalhadas. Meus olhos lacrimejavam ate. Elas dançavam como dançarinas de cancan. Suas pernas nuas e convidativas balançavam bem na minha frente. Tínhamos muita cerveja ainda e a noite já ia longa, quando Bill dormiu sorrateiro atrás do sofá da sala. Tinha uma garota e seu nome era Anita e seus peitos pareciam com comprimidos contra ressaca. Não conseguia tirar os olhos dela. Mesmo que pudesse, não conseguia. "“Por deus”, falei-a olhando em seus olhos castanho-claro, “ você parece ate mais bonita quando me olha sem desejo." Essa mulher que tem peitos quase tão bonitos quanto Bettie Page, e que tem olhos castanho-claros, é uma feiticeira mascarada. Descarada. Perversa.
Não consigo lembrar o nome das outras duas garotas. Qualquer coisa de Martina ou Betina, e a outra tinha um nome estranho, que mais parecia marca de cerveja alemã. Só lembro-me de seus rostos e suas vozes escandalosas enquanto embebedavam-se.
Allen e eu nos divertíamos e gargalhávamos enquanto enchíamos a cara. Assuntos inteligentes não apareciam e eu pouco me importei com isso. Anita continuava me excitando com toda aquela falta de desejo. Jogo sujo. Ela sabe que me deixa louco. Lembro quando perguntei:
- Ei benzinho, porque você não esquece toda essa baboseira ao redor do mundo e concentra-se no que eu quero de você?
- Porque alguém como você iria querer algo de mim?
- Porque e impossível não querer. De você eu quero amor e o equivalente a isso em sacanagem.
Então a beijei e constatei o que já sabia. Toda aquela falta de desejo me encantou como feitiço. Era uma espécie de psicologia reversa, onde meu cérebro captaria aquilo contrario a realidade. Meu tesão, minha paixão, meus dois bagos raspados a gilete barata e meu corpo por inteiro. Seu domínio. Era exatamente isso que ela queria. Bill acordou no exato momento em que eu acariciava as coxas dela e de surto partiu para cima de mim. Mas embriagado, caiu antes que pudesse me alcançar. Então perguntei:
- O que ha com esse cara?
- Bem, ele tem me telefonado às vezes. Sem retorno algum.
E não sei ao certo que noite era aquela. Estávamos perto demais do mar e aquilo so me era brisa. Também não sei se ela era minha salvação ou minha degola. Seus lindos olhos castanho-claros são como duas pedras infernais. Como medusa. Seus peitos que curaram minha ressaca me aliviaram um pouco do mundo lá fora e aqui dentro. De que horas a noite acaba? De que horas ela vai me abandonar? Feiticeira subversiva, não me imponha suas regras, nem seus receios, feiticeira.
*Eu bem que poderia ter ouvido Demétrius, mas quem me garante que ele também não mente?
Em referencia a música Feiticeira, da excelente banda de garage/ punk nordestina, Mahatma Gangue.
Um comentário:
Mahatma Gangue... caramba, quase ningúem que conheço, conhece!
vou logo dizendo que não é a minha banda preferida, mas como ativistas do punk, estão no topo!
se eu imaginar a canção por trás da narrativa, acho ainda mais legal a composição dessa noite delirante!
sempre uma crônica rasgada de comportamento e poesia!
seus textos são ótimos, já te disse!
grande abraço!
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