quinta-feira, 26 de março de 2009

As nadegas da mulher que comia mexilhões!


O mar pode ser revolto, se suas intenções não forem suficientemente boas.
Uma pequena casa de ferragem no píer, servia agora de morada para uma pequena família. A mãe e suas duas garotinhas.
A mais nova, com cinco anos, era linda. Cabelos trançados e soltos ao mesmo tempo. Olhos azuis, talvez por influencia marítima, ou genética. Pele alva, justificando os motivos de um louco.
A mais velha tinha seus onze e em nada parecia com a irmã. Exceto os olhos. Seus cabelos eram despenteados, possuía profundas e escuras olheiras que em nada contribuíam com os olhos. Era esquelética, não por falta de comida e sim de carisma. Ao contrario da irmã, nunca sorria e se por ventura o fizesse, seria de simples ironia melancólica.
A mãe era a mais ínfima e interessante das três. Descreve-la seria ofensivo e injusto. Exceto sua bunda. Não sei se 'surpreso' seria bem a palavra. Prefiro 'estupefato'.
Pois bem, fiquei estupefato ao chegar ao cais e atracar minha S.S. Charlotte Blue. Um rebocador que herdei de meu falecido e cretino pai.
Ela usava roupas que, para algumas, serveria de lençol de dormir. Diabos, nela pareciam minúsculas. Vejam, não falo que ela era grande e gorda - embora não tão esguia -, sim suas nádegas. Meu deus, imagino tamanho bem da natureza sentado em meu colo a noite inteira.
A senhora, ou senhorita, pareceu-me muito tímida, envergonhada, Pois pouco erguia seus olhos nos meus.
Ela limpava alguma coisa na pia que se encontrava na parte de fora de sua casa. Não ousei descobrir o que seria, mas vi que ela empenhava-se por concluir seu trabalho.
Em um certo momento, pensei em dirigir-me à ela e perguntar seu nome. Não o fiz, estasiado por enorme bunda. Penso que ate ela tenha um nome. Bem, pensamentos são como água. Nunca acabam e em pedra dura são como cachaça sem álcool. Ou embebeda por bem ou por mal.
Numa manhã de sábado, acordei e vi as garotinhas brincando perto da água. Brincavam com bexigas cheias de água, não as deixando cair. Mas notei que a menos estava um pouco molhada, ao ponto que a outra, enxuta. Notei também um brilho no olhar da mais velha, por acertar a irmã com as bolas as vezes.
A mãe não apareceu ate que a pequena estivesse por completo, encharcada. Então mandou-as entrar, sempre pacata e num tom de voz inaudível.
Na pia, novos e misteriosos objetos a serem lavados.
Dias passados e os mesmos ritos marítimos, faziam minha rotina. Acordar ao som das gralhas, abrir uma cerveja, colocar isca na vara de pescar e sentar na velha cadeira do capitão Caxias, para tentar compreender as mulheres, e a bunda, claro!
Mas voltando aos fatos. Aquela bunda me intrigava a cada dia novo. Em tempos de crise, tanta abundancia era justiça para menos favorecidos.
Não via homem algum entrar ou sair da casa. O que me levava a crer que era viúva.
Decidi ir ate lá e perguntar-lhe besteiras quaisquer. Ela me disse seu nome. Maria Ana. Não Mariana. Maria Ana. Excêntrico belo nome. Suas crianças chamavam-se Anna, a mais velha e Maria a mais nova. Criatividade exorbitante.
Ainda não foi dessa vez que consegui arrancar-lhe mais informações a respeito dela, dos misteriosos objetos escondidos e da bunda. Mas arranquei-lhe um sorriso, ao mencionar que ela tinha um belo par de olhos.
Seu marido havia morrido três anos atrás, quando seu braço foi estraçalhado em um moedor de ossos, num açougue onde trabalhava. Desde então, nenhum outro homem em sua vida.
Noutro dia, agora já conhecidos colegas, acordei e bradei um cordial bom dia. Ela, que invariavelmente lavava os mesmos objetos, levantou sua cabeça e acenou com a mão com um belo sorriso no rosto. Foi então que pude ver um marisco em sua mão.
Estava solucionado parte do dilema. Eram mexilhões. De onde vinham era uma incógnita. Para onde ia, não. Ou vocês, pensam que aquelas nádegas enormes estavam lá por vontade divina?
Eu e a Charlotte tomávamos uma cerveja e assistíamos a novela de mexilhões cozidos e bundas taquigráficas.

Um comentário:

Anne Elisabeth disse...

Mas que bela surpresa lê-lo no meu blog! Anda tão sumidinho..
:D

ótimo post, e ótima foto. De onde vc as tira?
As fotos e a inspiração?
escreve como ninguém!